Quantas mortes o ciúme guarda, quantos assassinos o ciúme oculta…Quantas…Quantos
Triste esse lugar que se torna tão comum aos nossos olhos, numa sociedade hipócrita, que cria mecanismos e justificações para os mais horrendos crimes, violências, mortes, e tão hábil a transformar vítimas e tragédias em consequências.
Revisitar Desdémona, e a luta desesperada da linguagem invisível do amor… pareceu-nos premente, numa atualidade voraz, mordaz, displicente.
Ousar apresentar Desdémona, e incendiar o debate, a denúncia, o direito a ser…vítima…
Ousar aduzir os deveres… e gritar, bem alto, pelo respeito, pela responsabilização… o ser culpado… o criminoso.
Tendo como base a tragédia de Otelo, de Shakespeare, trazemos para os dias de hoje esta tragédia popular do mouro de Veneza, e apresentámo-la assim, nua e crua, mas também poética e artística.
A poética de um engano perverso, do descontrolado ciúme, a poética da defesa da honra, que a astúcia da dramaturgia Shakespeariana, tão bem soube enredar e sobrepor… numa história que conta como Otelo executa de forma fria e violenta a sua amada Desdémona, Shakespeare não só livra Otelo de uma condenação sem perdão, como logo depois, cria o seu suicídio, e, portanto, redimindo-o de todas as culpas, e termina, quando toda a trama se desvenda, transferindo a culpa da tragédia para Iago.
A vítima…a morta… nunca chega a sê-lo…nunca ninguém a vê…
O protagonista (o verdadeiro criminoso) …a vítima…será o engano, o ciúme, o descontrole…
Nós…os espectadores…seremos os cúmplices, os que se comovem com o engano…mesmo diante do desfecho!
COREOGRAFIA/ INTERPRETAÇÃO Alexandra Fonseca, Fernanda Pereira e Miguel Santos
MÚSICA ORIGINAL Rui Dias
TEXTO E DRAMATURGIA Moncho Rodriguez
DESENHO DE LUZ Henrique Miranda
PRODUÇÃO Zero Amarelo, Associação de Projectos Culturais
Co PRODUÇÃO Teatro Cinema de Fafe
APOIO Escola Bailado de Fafe